Pensando alto.

Tinha um Senhor todo de amarelo na padaria hoje à tarde. Exatamente, todo de amarelo.

Calça social de linho amarelo vincada, camisa de botão dignamente passada, amarela do mesmo tom, com colarinho impecável abotoado. Nos pés uma sandália de couro artesanal, daquelas que parecem descansar uma vida inteira.

Óculos grandes e classudos, relógio de prata polida, o cabelinho branco ralo e penteado com capricho pro lado esquerdo, postura correta.

Ele não ficou mais que três ou quatro minutos do meu lado.

Pegou a pizza que previamente encomendara e seguiu a passos lentos até o balcão de sucos.

No caixa, ele estava na minha frente, e eu sei lá, fiquei meio nostálgica. Lembrei do meu avô, e de um filme que não lembro nem com promessa o nome, onde o velhinho só usava ternos monocromáticos.

Deu-me vontade de fotografá-lo, guardar o retrato pra quando eu envelhecer lembrar que a vida não deixa de ser bonita porque sua pele perdeu a jovialidade, os cabelos já fracos perderam a cor, os passos já não são mais tão firmes nem tão rápidos.

Deu-me vontade de perder o medo do amanhã, e de sacar o celular do bolso e gravar escondido o ‘Obrigado’ mais lindo que eu já vi.

Calmamente, pausadamente, baixou os óculos pra poder olhar nos olhos do menino do caixa e agradeceu com uma voz rouca e leve. Educado, respeitoso.

Nem sei bem porque estou escrevendo esse texto, mas precisava partilhar a nostalgia, a emoção que eu senti olhando pra um simples vovô e vendo vida passando, pura e simples, completando seus ciclos bem ali na minha frente...

Deu-me paz.

E agora me bate forte aquela música do Legião:

“...É preciso amar, as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar pra pensar, na verdade não há a a...”

Observar, assim como ouvir e falar trás grandes lições.