O jeito de ser, de vestir, de falar, de tomar atitudes.
Minha mãe é passiva, raramente tem pressa. Eu sou intensa, enfática, sempre correndo com o tempo.
Ela silencia, enquanto eu falo. Ela cochila, eu apago. Ela cozinha pouco, eu to sempre na cozinha.
Ela aceita a vida e seus acasos como quem diz ‘e daí’. Eu brigo, discuto, luto.
Ela é da embolação, eu sou da prática.
Minha mãe não bebe, não dança, não badala, e eu me acabo.
Ela não usa maquiagem, nem acessórios, nem salto alto. Eu tenho uma maleta de cada e nenhuma sapatilha.
Nossas diferenças são bem evidentes para quem nos conhece de perto, mas, hoje que também sou mãe entendo melhor quantas são as nossas semelhanças, que vão além dos dedos das nossas mãos (que são iguais)... Elas se perdem ora ou outra entre as minhas ‘ranzinzisses’, fruto de proteção excessiva com a educação da minha filha, e nossas lágrimas doces de dia das mães.
Toda passiva, me ensinou que aceitar o que a vida manda às vezes é melhor que duvidar que a luta vale a pena. Sem pressa, me faz ver que o mundo não pára para que sua vida passe.
Quando ela silencia, eu vejo uma mala pesada naquelas costas que já entrou na casinha dos 40, e entendo que não tenho dois olhos, dois ouvidos e uma boca à toa.
Quando ela embola os fatos e detalha as histórias eu me vejo, tentando contar as minhas sem que nada se perca. E quando ela fala doze tchaus, um beijo e fica com Deus ao desligar o telefone, eu me irrito em pensar que um dia isso me fará falta.
Ela não bebe uma cervejinha comigo, mas ri de coisas banais como se estivesse num balcão de bar – e aí eu paro, lembro da estrada nada fácil que ela teve e a glorifico a melhor mulher do mundo.
Ela ta sempre de batonzinho claro e cabelo sem ‘tirar o comprimento’, mas ela é linda, e se eu chegar aos 41 feito ela, não terei mais medo de envelhecer.
Ela trata todo mundo por meu bem, meu anjo, querido, e, mesmo achando meio pessoal demais esses termos, eu aprendi desde pequena com ela falando assim, que em toda situação, educação é fundamental e tratar bem as pessoas nunca te trás de volta coisas ruins. E talvez esse seja a maior herança que ela irá me deixar...
Ela agradece até coisas que eu faço sem querer nenhum agradecimento. Ela tem receio de me pedir favores. E eu reconheço que não dou valor à essa ‘vergonha’ bonita que ela tem de ser peso pra mim.
Ela cuida da minha filha desde sempre e muito bem, exagera nas permissões, mas cuida como nenhuma outra pessoa o faria. Da minha irmã mais nova ela é amiga, de um jeito que não sobrou tempo pra gente ser – é que na minha adolescência, a vida era mais difícil e a maior preocupação era me deixar vestida e alimentada. Mas não cabe ciúme aqui, cabe um sentimento de admiração ainda maior.
Eu olho para a nossa história e vejo tudo que ela já passou na vida, e mesmo achando que certas escolhas dela poderiam ter sido diferentes, eu sou filha e tenho mais que agradecer por ter tido uma mãe-pai que junto com a Vó Adelaide, em nenhum momento fez meu pai fazer falta na minha vida. (E a Vó Adelaide já é papo pra outra história). Não me sinto no direito de criticá-la por coisas passadas, importa pra mim os olhos dela, doces e compreensivos quando eu disse que estava grávida aos 17 anos, coincidentemente a mesma idade que ela quando me esperava. Se ela não me julgou, eu não posso e nem vou levantar meu dedo contra ela.
Depois que as vidas seguem uma em cada casa, a conexão parece ficar mais lenta, distante, mas alegra minha vida e me faz querer ser uma filha melhor quando eu minto que ta tudo certo, e ela finge acreditar mesmo sabendo que tem algo errado. Quando eu adoeço e ela perde o sono de longe. Quando ela me beija no final da tarde...
Minha mãe, mesmo que esteja errada, vai poder contar sempre comigo.
Ela tem mais que 1001 utilidades.
Ela é minha rainha...
Manhêêêê, eu te amo.
2 comentários:
Pri, conheço sua mãe!
Grande guerreira.
Abraço à ela...e outro pra você!
Sandro
Ah que lindo Pri!
Tenho certeza que ela ficará emocinada lendo isso tudo!
Até eu fiquei! :S
Bjos! ;)
Postar um comentário